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Bruno Covas é reeleito prefeito de São Paulo

© Taba Benedicto/Estadão Aos 40 anos, o prefeito Bruno Covas, que votou em escola da Vila Madalena, foi reeleito em São Paulo

Herdeiro de um dos sobrenomes mais emblemáticos da política paulista, Bruno Covas (PSDB) superou seu avô, ao menos no que diz respeito à Prefeitura de São Paulo. Mário Covas não chegou ao cargo por escolha popular. Ele foi o último prefeito biônico antes de democratização, em 1983. Bruno, de 40 anos, seguia uma história parecida – era o vice na chapa vencedora de 2016 –, até ganhar a eleição no segundo turno, neste domingo, 29.

Segundo aliados, uma vitória com gosto de superação, além de uma carga de emoção não prevista. Com 96,50% das urnas apuradas, o tucano está matematicamente reeleito, derrotando Guilherme Boulos (PSOL), isolado nos últimos dois dias da campanha após anunciar que contraiu o novo coronavírus. O tucano obteve 59,38% dos votos válidos, ante 40,62% do candidato do PSOL.

Neste domingo, as histórias do avô e do neto se encontram novamente. Há pouco mais de um ano, Bruno luta contra um câncer, mesma doença que tirou Mário Covas da política e depois do convívio familiar. Amparado por um junta médica especializada e com os melhores recursos em tratamento, o prefeito não se afastou do trabalho nem escondeu os efeitos da quimioterapia em seu corpo.

Quando a pandemia chegou, Bruno Covas já era reconhecido nas ruas como prefeito da capital. Tinha ganhado fama de corajoso e conquistado a empatia de parte da população. No início de outubro, com a campanha no ar, pôde reforçar que sua gestão tinha aberto e fechado dois hospitais de campanha e retomado obras paralisadas até maio na área da saúde.

Começou em segundo lugar nas pesquisas – o recall de Celso Russomanno (Republicanos), mais uma vez, o colocava à frente –, mas foi subindo gradativamente e marcou 32% dos votos válidos no primeiro turno – 12 pontos à frente de Boulos.

Sempre calmo em debates e entrevistas (até demais em alguns momentos), Covas chegou ao dia 15 de novembro com a lição de casa toda feita. Considerado um bom articulador político, conseguiu o apoio de outros nove partidos, além do PSDB, da forma mais tradicional que se conhece na política: fazendo composições e concedendo agrados aos aliados. Em seu atual governo, ao menos oito desses partidos têm ou já tiveram cargos no alto escalão.

O indicado para a chapa por uma dessas siglas coligadas, no entanto, virou o calcanhar de aquiles de Covas na reta final: Ricardo Nunes, o vereador do MDB indicado (e eleito) vice-prefeito da cidade.

Conhecido na zona sul por indicar entidades para formarem convênios com a Secretaria Municipal da Educação na oferta de vagas em creche, Nunes tem ex-assessores como gestores de algumas dessas unidades, recebendo mais de R$ 1,4 milhão em aluguéis por ano da Prefeitura. Fato que, como Nunes reforça, não o rendeu nenhuma denúncia, mas deu munição até o fim à campanha de Boulos.

Pressionado, Covas passou a esconder ainda mais o vice e teve de reconhecer que o vereador não foi sua primeira escolha. Por mais de uma vez, admitiu que a chapa ideal, em sua avaliação, incluía uma mulher. A definição do nome de Nunes, no entanto, fugiu de suas mãos. Foi articulada por Doria, o MDB, claro, e o vereador Milton Leite (DEM), chamado por parte de seus colegas na Câmara de “primeiro-ministro”, tamanha sua influência no Edifício Matarazzo. Nunes é próximo a ele.

Mesmo mais apertada do que se esperava, a vitória de Bruno serve para dar um certo respaldo à renúncia de Doria em 2018 para disputar e vencer o governo do Estado – exatamente como ocorreu com Gilberto Kassab (PSD) em 2008 após chegar ao cargo de prefeito a partir da renúncia do também tucano José Serra. A diferença é que, desta vez, o comando da cidade permanece com o mesmo partido.

O apoio do PSDB à candidatura, aliás, se deu de forma homogênea e unânime. Se, no momento da descoberta do câncer a sigla temeu ser obrigada a escolher outro filiado para a disputa, ao longo do tratamento de Covas o partido fechou em torno de seu nome e lhe deu condições de fazer uma campanha sem muitos altos e baixos.

Até a sexta-feira, o investimento financeiro na reeleição já somava R$ 19,2 milhões em receitas, dos quais R$ 15,2 milhões repassados pelo partido.

O ex-governador Geraldo Alckmin, duas vezes vice de Mário Covas, conheceu Bruno ainda adolescente, quando ele decidiu deixar sua cidade, Santos, no litoral paulista, para estudar na capital e morar com o avô no Palácio dos Bandeirantes.

“Era um menino muito estudioso e inteligente. Fez duas faculdades ao mesmo tempo – Direito na USP e Economia na PUC. E com o avô aprendeu a ter espírito público. É vocacionado para a política, um nome dessa nova geração”, diz. Segundo Alckmin, a conquista da eleição é resultado de um trabalho bem-feito.

“Foi transparente com a questão da doença, sério no combate ao coronavírus e fez uma campanha muito boa, apesar de totalmente atípica. Agora tem um grande desafio: governar de novo essa cidade, que é apaixonante. Eu mesmo tentei por duas vezes”, conta.

Se o cenário até aqui é de comemoração, a realidade com as urnas fechadas segue igualmente desafiadora e com eventuais dois agravantes: o risco de uma segunda onda de covid-19 e o fim do auxílio emergencial pago pelo governo federal. Se a pressão por mais leitos hospitalares subir novamente na capital – o que já se desenha nas redes público e privada –, espera-se que Bruno tenha de anunciar o retorno de algumas medidas restritivas na cidade. Doria, aliás, marcou para hoje, um dia após a eleição, o anúncio da revisão do plano de controle do Estado.

Mas é no combate à pobreza e no retorno seguro dos alunos ao ensino presencial nas escolas que Bruno Covas deve focar suas próximas ações – este ano, inclusive. A rede pública está com aulas suspensas há oito meses, com boa parte dos alunos sem acesso a qualquer tipo de aprendizagem remota, a não ser uma apostila para estudo em casa, sem qualquer tipo de auxílio digital.

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